Em Junho de 1981 trabalhava na Companhia de Engenharia d Trafego m São Paulo tinha 37 anos. Após várias tentativas d conseguir uma transferência para Santos estava tentando adotar a situação que era trabalhar m uma cidade, mas morando m outra. Na época não era algo tão comum de quem se lançava ao mercado d trabalho. Era uma opção difícil e não era tão contornável assim. Basta lembrar por um momento que a única opção de ligação entre as duas cidades era a Via Anchieta com a capacidade esgotada em fins de semana feriados prolongados. A qualidade dos ônibus que faziam o trajeto era péssima o transporte na Capital era dependente dos ônibus urbanos, pois o metrô se iniciara há apenas três anos e tinha uma única linha que era a Norte Sul. A chegada a São Paulo melhorara um pouco com a criação do Terminal Intermunicipal do Jabaquara onde os ônibus agora aportavam fora construída a estação Jabaquara do Metrô.
Já havia morado m São Paulo das mais diversas maneiras. Em pensões, m hotéis pequenos, dividindo apartamentos tipo kit com colegas d serviço viajando d ônibus e expressinhos. As experiências foram sendo descartadas por vários problemas que ocasionavam. Apesar de tudo São Paulo ainda era uma cidade boa e segura para se morar e não havia ainda os perigos dos tempos por advir do grande crescimento da miséria.
Alugara um pequeno apartamento na Rua Teodoro Sampaio que era até confortável e lá permanecia 3 a 4 dias por semana. Minha mãe gostava do apartamento e costumava lá passar também uns dias na semana. Era próximo ao Bazar Treze.
Sempre que estava em Santos encontrava-me com o Ricardo e o Fernando Prieto. O Ricardo trabalhava também m São Paulo, mas não chegamos a nos ver por lá. O Prieto trabalhava na Cosipa desde os primeiros anos de formado.
O Ricardo já havia passado quase 5 anos em Lagos na Nigéria onde trabalhara na construção de frigoríficos para a Promon engenharia. Desde nossos tempos de faculdade ele era um admirador incondicional de viagens. Quando viajamos a primeira vez a Europa fizemos aproximadamente na mesma época em 79, mas não fomos juntos, pois seguimos roteiros diferentes,
Havíamos estado juntos em Campos do Jordão em mais de uma oportunidade quando se apresentava um feriado prolongado como os dias de Carnaval em que tudo fazíamos para deixar Santos. Nós, eu e Prieto éramos não só amigos de Ricardo, mas também de Lairton e de Laizinha os seus irmãos e freqüentávamos o apartamento da família no Edifício Dinorah no Gonzaga onde eles passaram a morar a partir de 1968.
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Encontros não compreendidos,
Basta que mostre o quanto,
Surgiu das chamas, que encanto
(Prólogo do autor)
F |
oi num Carnaval do ano de 1979. Algumas vezes costumo divagar sobre o estranho acaso das datas que modificam os rumos da vida do ser humano. È quase como uma tendência nossa valorizar o início e ignorar o término as vezes até antecipando-o adrede sua crença fantasiosa de que o recomeço por si só pode modificar as coisas. Imaginemos nós quanto pobre seria a história do mundo ocidental no século XV se ela fosse lida um ano antes de terminar, em 1499, ou ainda a história década de 80 no século XVIII para a França dois anos antes de encerrar-se em 1788. Quem pode ainda que por um átomo saber o que reservamos para nós mesmos ? Ou ainda a historia da década de 60 dois anos antes que houvesse acabado e nós houvéssemos alcançado a lua em 1969 ?
O que mais faltava acontecer antes daquela década de 70 terminar ? Jymmy Hendrix se fora, a tv era finalmente a cores, eu recebera um diploma e tornara-me mais um trabalhador cheio de planos e esperanças da gigantesca colmeia paulistana. Permanecia entretanto ligado a Santos. Aquela pequena ilha de 4000 quarteirões cujo porto, o futebol e o café tinha realizado a tarefa de colocá-la no mapa do mundo. Meus sonhos e meus amigos eram completamente santistas. Vivíamos na mais completa santistidade. Adorávamos mormaço, maresia e ressaca. Apreciávamos a paz e o sossego de um tempo sem acidentes e não aderíamos a folia carnavalesca de Fevereiro. Naquele ano os dias do Carnaval eram do começo de Fevereiro e alguns amigos convidaram-me para ficar com eles na pacata, fria e serrana Campos do Jordão.
Nunca havia estado lá mas escutava o quanto era bonito o lugar. Não sei dizer o que me teria levado a ir. Creio que estava determinado que eu teria que estar lá naquele momento, quando a temporada de chuvas iniciava e inundava torrencialmente São Paulo.
Viajando sob a chuva de fevereiro minha ida para Campos foi uma aventura.. Algumas vezes penso em como consegui realizar tais coisas ou em como elas puderam de alguma forma realizar-se. Creio que se elas tivessem sido planejadas não teriam acontecido. Como terei saído de São Paulo e chegado em Santo André um lugar onde nunca estivera ou imaginara estar algum dia..
As chuvas prolongadas haviam acumulado um grande nível de águas que chegavam aos joelhos. Creio que de um telefone público liguei para alguém dizendo onde estava para que pudesse pegar-me ali. Como cheguei na hora certa, como o telefone funcionou e como tinha o número são coisas que nunca poderei explicar. Simplesmente tinham que ter acontecido.
Não lembro quanto tempo fiquei ali mas um carro veio me buscar. A aventura havia começado. Percorremos várias ruas até alcançarmos uma estrada e nos colocarmos a caminho de Campos. Lembro-me do amigo R..., de seu irmão L... e seu cunhado M... Riamos muito. Existem ocasiões em que tudo é motivo de riso. A aventura nunca nos parece um obstáculo em nosso cotidiano e sim um desafio a ser superado, mesmo numa estrada molhada e escorregadia, repleta de pessoas que buscavam o Rio de Janeiro. Aquela era a via Dutra ?
Monteiro Lobato povoou nossa mente fértil e dominou nosso imaginário infantil. Criança ainda li sofregamente todos os contos daqueles personagens tão vivos quanto maravilhosos. Adorava uma fazenda sem nunca ter estado numa, conhecia folclore, mitologia e gostava dos bolinhos de chuva que minha mãe fazia porque lembravam os da tia Nastácia. Senti-me emocionado ao passar nas ruas estreitas de Monteiro Lobato com suas casinhas pequenas e acanhadas imaginando que por ali andara o criador de alguns dos nossos mais caros sonhos infantis. Grande Monteiro Lobato.
Apenas um coração solitário. Como tantos outros de minha geração eu me sentia solitário embora não sozinho. Creio que se fosse daquela época Caetano o teria definido em Sozinho. Nesta época entretanto sua luta era outra, mais ampla. Nossos corações agora atravessavam grandes extensões de pinheiros sob um céu límpido tecido de estrelas com o aroma do verde entremeando nosso olfato e a quietude solene da noite azul escura envolvendo nossos olhos atônitos. Estávamos na serra e jamais a esqueceria.
Impossível era contestar aquele silêncio e a quase realeza da noite de Campos. Intimamente senti que havia tido um privilégio de conhecer tudo aquilo tão de perto. Aquelas estradinhas bucólicas maltratadas pela mata serpenteavam caminhos que tocavam casas escondidas no interior da paisagem. Um brilho selenita intenso e invulgar como uma lâmpada mágica guiou-nos a uma cerca de madeira pintado de amarelo. No portão ao lado da caixa de cartas uma plaquinha de madeira mostrava gravado em alto-relevo com letras muito bemcuidadosamente recortadas: “Casa Gabus”.
Gabus era uma casa de sonho e segundo se dizia pertencia a uma pintora que raramente a ocupava. A casa tinha uma ampla varanda e era imersa em um jardim povoado de rosas e jasmins. O perfume percorria e acompanhava nossos passos descuidados no caminhozinho de pedras entre o portão amarelo e a varanda. Devassando a escuridão da noite pela ampla janela de seis vidros grossos que separavam o frio da serra do cálido ambiente da ampla sala interior jorravam luzes de um amarelo intenso num aspecto irreal de um velho amigo a nossa espera. Ainda não havia entendido que a Gabus fazia parte de algo bem maior que fora urdido e cuidadosamente preparado nos derradeiros anos daquela década.
Adentramos a sala esculpida numa madeira rústica que transmitia a sensação de força e conforto como se fosse um velho amigo fiel a nossa espera. O aparador central também de madeira e vidro exibia garrafas com chá verde, café e vinho quente. Travessas de pinhão, bolo de fubá, queijo e manteiga. Rodeando o conjunto Dona Nedda conversava com o marido e amigos envolta numa manta vermelha e preta. Provavelmente a espera dos filhos, i. é, nós.
Uma distancia grande separava uma enorme lareira atrás da animada roda de conversa, mas ainda assim podia-se sentir o calor das achas de lenha crepitando em grandes labaredas que expeliam névoas de centelhas pela tiragem da mesma. Um cheiro de lenha de pinus pairava pelo ambiente. Completavam aquele aquecimento dois enormes braseiros do lado da porta por onde agora passávamos sentindo a onda de calor contrastante com o frio externo.
Observei a pele de urso a guisa de tapete entre a lareira e o aparador, o lustre que era suspenso em uma espécie de roda de carro de boi e a cabeça de um ceado com uma imensa galha pendurada na parede. As paredes recobertas de madeira escura e envernizadas exibiam pinturas de paisagens com cavalos em movimento em campos e espaços amplos. Todas assinadas por Gabus. Na parede defronte as janelas havia um grande bar onde em vários níveis de prateleiras estavam copos e taças de cristal. No tampo rústico incontáveis garrafas de bebida e baldes de gelo.
Junto as outras paredes cristaleiras exibiam aparelhos de chá e café de uma grande infinidade de padrões de porcelana tudo de muito bom gosto refletindo um espírito delicado e cuidadoso As cristaleiras se harmonizavam com o ambiente rústico e forte transpirando solidez e segurança. Num canto afastado da sala um aparelho telefônico daqueles compridos e pretos com o disco na base de suporte, Eram muito comuns no interior servidos por companhias telefônicas pequenas e sem recursos.
Este era o charme da sala da Gabus onde R..., L..., M... e eu de pé nos encontrávamos agora. R... e L... , meus dois amigos e irmãos eram freqüentadores ocasionais para quem aquela casa não tinha segredos. M... também a conhecia, creio eu até quem a descobrira. Mas eu não nego que fui apanhado pelos seus encantos e mistérios. Gabus era quase uma lenda;
A lareira crepitava chamas altas ardendo achas de lenha de pinheiro, algumas verdes, e ondas de calor atingiam-nos o rosto. Sempre senti-me fascinado pelo fogo. Aquela flor vermelha que apreciamos sem tocar, companheira do homem desde milhões de anos quando o defendia da ferocidade dos animais e aplacava seu terror primitivo. A luz tênue e laranja-avermelhada iluminava nosso rosto e nosso espírito.
As batidas na porta não surpreenderam Dona Nedda. Algumas pessoas eram esperadas para completar aquele círculo que se formara coeso ao alcance do calor da lareira, Creio que nos instantes intermináveis de eternidade em que M... cruzou a porta da casa Gabus parei suspenso no tempo por um misterioso desígnio do Destino quica planejado que se insinuara pela porta.
Fiquei no canto parado a admirar o "destino" que na companhia de dois amigos e irmãos abraçava e beijava os presentes e fiquei sabendo que o "destino se chamava Macleid e os dois amigos e irmãos, Conrado e Manfredo, eram realmente amigos.
Houvera alguem me perguntado e eu diria que a suave imagem era um desafio a indiferença e um insuportável assalto a uma alma inquieta. Olhava-a como um personagem de Sagan tomando chocolate pela manhã. Conforme as labaredas lhe emprestavam ao rosto sua luminosidade vi todas as décadas passando a minha frente.
Observei o rosto perfeito com o nariz mais-que-perfeito ainda e um cabelo de um castanho liso caindo sobre um rosto que refletia a felicidade de estar entre amigos e muito mais ao lado daquela mãe adotiva e carinhosa. A roupa simples, uma blusa clara e calças de lã que faziam jus ao frio da serra, sentou-se sobre as pernas dobradas junto a lareira e as chamas se refletiram em seu rosto que se refletia em meus olhos. As mãos de dedos delicados e os pés pequenos nas botas de camurça marrom se fossem menores não seriam mais perfeitas
Alguém sugeriu que se tirasse uma foto, porque teria sido não sei, e um outro alguém sugeriu que fosse eu o fotógrafo. Um coro de vozes se elevou pela sala e juntou-se aos protestos da moça que com justa razão, talvez ditada por um acanhamento ou por considerar o fato uma brincadeira imprópria, recusava veementemente. D. Nedda com certeza viu a aflição em meu rosto e acalmou a moça garantindo que eu era um dos melhores fotógrafos artísticos que ela conhecia.
Naquela ocasião a fotografia caminhava comigo e era parte de minha vida. Guardar uma imagem é uma tarefa fácil para a fotografia. Diferentemente da pintura que reflete a alma do artista que retrata as coisas como ele vê, a fotografia retrata o que as coisas são exatamente como são. Não cometeria o desatino de desdizer Platão. - é claro que cada coisa é o que é segundo sua essência. O que acontece é que ele não tinha máquina fotográfica e não sabia que enxerga somos nós e não a máquina e cada um enxerga diferente do outro. Podemos ver com os olhos da esperança, com os olhos da dúvida, com os olhos da indiferença ou com os olhos do amor. São mil imagens em mil centelhas de olhares em incontáveis emoções que nos fazem tirar mil retratos diferentes. Tudo acontece em nossos olhos e nosso espírito. Creiam é tudo verdade.
Costumava carregar numa maleta térmica minha inseparável reflex Minolta, varias lentes para efeitos especiais e claro um estoque de filmes e baterias. Minha preferência era o preto e branco cuja linguagem eu dominava porém naquele momento a máquina continha um Kodak Ektachromme, ainda bem mais apropriado para fotos com luzes do ambiente. Embora as fotos de pessoas não fizessem parte do meu costume disse que era muito simples e que utilizaria a luz da própria chama da lareira para fotografar o rosto que chegara para aquele encontro inesperado. Acho que nunca estivera tão preparado para receber alguém. Agradecendo aos deuses da fotografia retirei a máquina da maleta e ajoelhei-me na pele do urso procurando aquele rosto no visor da reflex. Desejava intimamente ser Bresson ou George Love mas era apenas eu e minha câmara.
Sem saber ao certo o que fiz registrei o tempo e a abertura da máquina e meus olhos esperaram que as chamas iluminassem aquele rosto no momento certo. O rosto do destino se materializou na minha vida e balbuciando desculpas tentei dizer a ela que em alguma ocasião próxima eu lhe daria aquela foto do encontro inesperado guardara literalmente seu sorriso e seu coração, Dizem que certas tribos africanas não se deixam fotografar por terem medo de que a máquina aprisione seu espírito. Será que fora isto que eu fizera.
Trago Campos comigo desde que lá estive. Não é somente o frio seco, a delicadeza das hortênsias, os caminhos de terra que serpenteiam entre os pinheiros carregados da fragrância do pinus. Os simpáticos chalezinhos de uma arquitetura alpina com vigas enxeimel e o burburinho das pessoas agasalhadas de lã vestindo luvas e gorros em Capivari, a noite em seus simpáticos restaurantes como aquele onde agora nos encontrava-mos. Era por tudo.
Havíamos nos reunido num restaurante em Capivari, o bairrozinho central da cidade. As ruas eram agitadas pelo vai e vem constante das pessoas exibindo belas malhas e gorros de lã. Sentamos em uma mesa comprida e rústica de madeira próxima a janela de vidros grossos por onde se via o movimento. O ambiente era quente, aquecido pelos costumeiros braseiros na soleira da porta e pelos aquecedores centrais de vapor a um canto do salão próximo a um mancebo onde pendurados ficaram nossos casacos. As mesas eram recobertas por toalhas de um xadrez vermelho e branco. A sugestão de vir ali partira de R.. A idéia era saborear um fondue com vinho. Bom. Embora ainda não soubesse o que era um fondue R.. nos garantiu e esclareceu que a iguaria não passava de queijo derretido onde se molhavam pedaços de pão. O mais importante para mim é que Macleid também havia ido ao restaurante e haviam providenciado para que ela se sentasse a meu lado.
O fondue era convidativo em sabor e no aroma pronunciado do Emental e da vodka. Nunca esqueci aqueles momentos em que tive sua presença perto de mim pela primeira vez. Foi quando eu soube, creio, que seria a primeira vez até que fosse uma presença permanente. Disfarcei o pouco a vontade tomando várias goladas de vinho quente. Sentia mais do que via seu olhar intenso através do vapor de vinho que exalava da xícara. A bebida quente doce e forte pelo cheiro de cravo e canela descia pela garganta pela primeira vez e ignorei brincadeiras e indiretas. O povo queria mesmo que fosse por brincadeira provocar-nos. Fingi nada perceber, inclusive os bilhetes provocativos trocados de mão em mão sob a toalha quadriculada. Sentia uma certa leveza e flutuação após o queijo e o vinho. O primeiro vinho quente não se esquece. Quando o primeiro encontro acontece nunca termina.
Fomos ao morro do Elefante, o penhasco que durante o dia podia ser alcançado pelo teleférico. A noite turmas de jovens costumavam subir até aquele local há mais de dois quilômetros de altura para observar as luzes das cidades próximas a Campos do Jordão. Macleid também foi mas estava com os amigos que a haviam trazido. Olhei-a disfarçadamente e tomei mais dois copos de vinho. Olhei para cada detalhe daquele perfil que trazia primeiro no filme que tirara e agora na memória. Sabia enfim que a havia encontrado . Encontrado entre a névoa da serra e de modo algum poderia deixa-la ir-se sem que soubesse disto. Senti uma vontade de dizer uma torrente de palavras e coisas para ela mas creio que não teria sido nada do que eu pretendia dizer e deixei que minha imaginação nos colocasse a sós naquele penhasco onde o encontro da promessa tivesse apenas a cumplicidade da estrela que brilha sem parar até o amanhecer. O amor começara a colocar a imaginação no poder.
Quem vai a Campos pela primeira vez não deixa de visitar o Jardim Botânico. Eu também fui. Meu interesse pelas plantas foi correspondido ao conhecer aquela imensa área repleta de plantas, que se mantinha fria mesmo sob o sol pela quantidade de sombras e de verdes que abrigava. Num grande cercado milhares de vasos com mudas de pinheiros de todas as idades e tamanhos atraiam a atenção do explorador. Escolhi uma pequena muda e saí com ela na mão, para e acompanhar durante sete anos.
A pequena muda de pinus foi plantada em um grande vaso num apartamento no Boqueirão onde minha mãe morava. Cresceu e chegou a ter mais de um metro de altura. Uma tempestade com forte chuva e vento tombou o vaso e partiu-o ao meio e foi assim que fiquei sem minha planta predileta.
Alguns retornavam a suas casas e obrigações. Fomos todos ao pico do Itapeva onde poderíamos olhar a cidade uma vez mais. Ali no mirante nos despedimos Eu, R... e L... estávamos indo embora. Sabia que alguma coisa havia mudado no rumo de algumas vidas e principalmente na minha. Sabia que de algum modo o encontro esperado havia ocorrido. O encontro firmado tinha sido realizado e nada poderia muda-lo pois ele já me havia mudado. Não há acontecimento mais nítido e transparente do que este. Quando temos o amor em nossas mãos é como se tivéssemos água. Precisamos segura-la com um cuidado extremo pois ao menor movimento em falso dos dedos entrelaçados ela escorregará e se perderá.
Olhei para aquele rosto agora gravado em meu coração e dela despedi-me com um abraço apertado pois nada poderia dizer. Um abraço que eu levaria nos braços como se houvesse apertado a parte faltante da minha existência antes daquele encontro. Ela estava vestida de branco e o rosto ligeiramente rosado pelo frio do mirante. Despedi-me daquele rosto da moça de nome singular e nariz de santa com um certo aperto no coração apesar da certeza de que nos encontraríamos novamente. Desci o pico do Itapeva e afastei-me dela sem separar-me da sua presença indelével em meu espírito como uma chama naquela névoa fria da serra.
Já havia mandado a fotografia e bão recebera nenhuma resposta. Fora até algumas vezes a casa de Dª Helga e cinversara myuto com o Conradinho e o Manfredinho, Acho que no íntimo eu acalentava a esperança de encontra0la por lá. Não sabia que ela estava tão perto.
Entreguei ao Ricardo aquele bilhete siples e direto sabendo que D.Nedda tudo faria para que eu tivesse a oportunidade de rever aquela que passara a povoar meus sonhos,
Tia Nedda
Durante o jantar do centro vi uma pessoa que me interessa muito encontrar outra vez: é a Macleide. Sei que a senhora tem muito jeito para estas coisas.
[1] Rafinha |
Foi no dia 2 do mês de Junho de 1981 que eu recebi aquele telefonema de Macleid. Se eu poderia ir até o Centro na Rua Joaquim Távora ajudá-la a carimbar os convites para a Festa Junina. É claro que eu fui. Não queria outra coisa senão reve-la.
Sempre gostei de festas juninas. Is balões pelo céi me fascinavam desde pequeni, Será que era correto soltar bações naquele tempo. As bandeirinhas e as fogueiras acesas nos quintais, Tinha tudo um sabor de unfância.; Um festejar de alegria . Foi naturalmente a Laizinha que insistiu para que ela me telegonasse e ligasse para casa.. Junho não seria mais para mim apenas o mês das fogueiras e balões. Alguma coisa acabara de mudar todas as nissas vidas para sempre.
Sentia-me um pouco intimidado naquela mesa grande e conberta por uma toalha branca. Carimnabdo aqueles cartões. Mas ali estava ela. Ela em quem eu pensara todos aqueles mese e a quem eu dera aquela foto a luz da lareira. Não podia me sentir mais contente.
A Laisibga a levou até em casa depois. O carro ia cheio. A Marcia, o Edu e msid pessias de que não lembro. Fpo então que fiquei sabemdo que ela morava na Eua Stockler de Lima no número 84. Era a casa de sua Tia Olívia. Ela havia me pedido que fosse até o o entro no dia seguinte.
Sempre me lembrarei de nosso primeiro chá naquele velho sofá. Estava frio e tinhamos tomado um pouco de chuva, mas isso não importava. A sala era toda de madeira e eu só me lembrava como eram os chalés por dentro de meus tempos de garoto quando morava em uma vila r tinha um amigo que morava no chalé ao lado. Sua casinha berde e voce enrolada no roupão branco enxugando o cabelo. Achei que ia se resfriar, Voce preparou o chá e eu achei que era muito nom. Era como um rtual voce me disse e nós o asicionamos na nossa coleção de coisas nossas. Tremos tomar muitas xícaras desse nosso chá e teremos nuitos vasos de jasmim e talvez até um pé de jasmim num jardim só nosso.
O SOLAR DO CARMO
O Solar do Carmo era um espaço mixto de antiguidade e decoração e seu idealizador fora um amigo do J.Barreto Neto e meu igualmente. Uma pessoa ligada ao meio fotográfico, mas como um realizador não um fotógrafo amador como nõs.
A fotografia é uma paixão e absorve a ocupação e o oensamento de quem é fisgado por esta arte. Fui participante assíduo do Clube Foto Amigos de Santos e participei de muitas mostras e exposições.Fiz frandes amigos que partilhavam a mesma paixão comum como o Dalmo Teixeira Filho, o Amaurt da Cruz Tiriba e o Fabio Morais Bassi Cursos, excursões e sobretudo muita leitura técnica e pesquisa. Fotografei Paraty, as festas de Iemanjá na praia do Gonzafa e cheguei a ter um grande acervo de registros e experiências. Isto aconteceu nos anos 70.
Nós frequentavamos na época a loja do Nilcon na Vasconcelos Tavares. Ele comercializava máquinas e material fotográfico embora eu até chegasse as vezes a ir a São Paulo comprara material na Conselheiro Crispiniani.
Tive duas máquinas japonesas de qualudade profissional consideradas o máximo na época. Foram Minoltas 35 nn Reflex com uma inevitável sucessão de lentes e dispositivos que eu usava e experimentaba nos lugares onde o pessoal ia para fotografar.
Haviam muitas festas e reuniões na casa do Barreto onde alguns de nós frequentavamos e passavamos horas a discutir temas e fotos. Mostras mesmo só realizei uma sobre aspectos de Paris onde estive fotografando durante duas semanas no Outono de 78. Meu equipamento foi perdido ou roubado, não sei, no aeroporto de Heatro em Londres em 79. Cheguei a ter outro que também foi roubado em 83 e aí tive que desistir. Não tinha recursos para conseguir tudo novamente.
O proposito do Solar do Carmo era reunir fotógrafos amigos e participantes da arte também. Pensavamos em fundar um novo Clube devido a divergências que tinhamos com o Foto Amigos. Foi na noite de 5 de Junho de 1981 que lá fui e convidei Macleid para que fosse comigo pretigiar o evento. Alguém importante que eu conhecera e que estava comigo em alguma coisa que tinha bastante significado para mim naquela ocasião.[2]
Xaminhando pela Rua Francisco Glicério de mãos dadas e perdidos em um carinhoso silêncio eu pensei que na verdade já havia feito a fotografia mais importante e significativa naqueles anos, Fora a foto ao pé da lareira em 1979 em Campos do Jordão quando encontrara Princesa.
A Maria Jelena Lisbão caprichou no cardápio. Us frutos do mar e a maionese de lagoste eram um requinte naquele localde que o mínimo que se poderia dizer para fazer justiça é que era bonito e agradável. A decoração ecocaca u ibterior de um grande salão transatlântico com o chão e o teto gorrado rm madeira e que dava acesso ao salão principal por uma ponte de nadeira como a ponte de acesso a um navio.
Havia ido em companhia do Ricardo, mas o que não savpamos era que seíamos colocados em uma mesa de casal. Rudo provocou grandes risadas e gracejos que se prolongaram noite a dentro, Os pratos principais foram servidos na mesa e o garçom ainda acendeu a vela que estava sôbre a mesa. Era um jantar a luz de velas e a orquestra tocando belos temas românticos no fundo. Foi quando Macleid saiu de uma nessa ni meio e veio até a nossa mesa, perguntando se não piamos dançar.
Ela estava lá e mais uma vez nosso encontro teve uma conotação esquisita para não dizer ridícula. Bom, gozações a parte foi uma bela noite embora um tanto exótuca.
(...) Vom, na verdade, não havia muito a fazer. Goramos apanhados numa armadilha. Ninguem dissera que ia ser um jantar romântico, mais para casais do que outracoisa. Não posso esquecer a cara do garçom, perguntando ‘Devo acender as velas Sr.? Claro, já estava tudo aceso mesmo “ (...)
‘Acho que estamos destinados a nos encontrarmos só quando eu estou numa situação ridícula’. Avho que a moça que eu conhecera em Campos do Jordão tinha razão. Era realmente terríbel encontra-la agora vestida como o chapeuzinho vermelho, conversando com os garotos de boca aberta e cara surprêsa em plena quermesse junina da Gôta de Leite.
Não sei dizer como o Geia estava ali, comandando uma barraca de prendas e nem como fora parar lá vom o Ricardo. Voisas de D.Nedda. Entre surpresos e divertidos, constatamos que havia muiti mais do que coimcidência nesses enconytos. Alguma coisa passou a acontecer. Algima voisa muito importante para nós.
Voce me disse qualqyer coisa de sempre nos encontrarmos em situações embaraçosas. Isto porém era o que menos importava para mim. Como aquela vez no elevador do prédio de S.Nedda. Voce estava com o cabelo curtinho. Coce estava saindo e eu estava entrando. Uma verdadeira surpresa do acaso.
UMA QUADRILHA DE FESTA JUNINA
Ainda trago nos ouvidos o murmurio do mar se espraiando nas areias da praia de Pernambuco. Ainda bem que paramos ontem naquele lugar abençoadp, e se podemos por uns imstantes ser egoístas, dizer que ele foi criado para que andassemos ali um dia e eu ficasse a admirar voce naquele cenário onde algum designio tornara deserto naqueles instantes. Disse expontâneamente que tu eras como o mar às vezes calmo e sereno numa pacidez que acobertava uma infinita quantidade de vida e beleza e às vezes revolto e inquieto em constante busca e procura de bovas correntes e caminhos. Entretanto como ele tu me transmitia naquele momento a mesma sensação de grandeza e de certeza. Saber que ele está ali ká milhares de luas e de s´pis e que estará por outro tanto ou mais da mesma maneira não importa quanto as criaturas tudo modifiquem aonde alcançam seus braços. A certeza da eternidade.
A ppraia dourada é voce. Esta será minha praia e ela será você. Assim eu a conhecerei daquele instante em diante, embora eu saiba que a vida nos modificará e nos tornará diferentes, embora não possa nos apagar aquela passagem da memória.
Após um intervalo de 4 anos, lonfos e arrastados, estivemos novamente juntos em frente as chamas da fogueira, mas nossas mãos agora estavam indelevelmenye enyrelaçadas. A chama selou o nosso compromisso há tanto tempo assumido. Nossas fantasias e nossos chapéus de palha sobre nossas caras pintadas eram iluminadas como se tudo fosso um grande banquete. Nós emprestamos p brilho, não precisamos dele. Nós somos nossa própria luz. Voce sabia que os anjos e as princesas tem luz própria? Guarde isto para sempre quando a lareira ameaçar apagar. Estarei ao lado para assoprar as chamas.
Dª Nedda é uma outra mãe. Sinto nela uma fonte de energia e uma proteção em sua filha querida. Tu achas que ela savia que um dia abençoaria nosso amor?
Seu, verdadeiramente
Anjo
P.S.1 Não foi divertida a volta com a Marly dirigindo aquela carangola velha?
P.S.2 A Marcia e o Edu são ótimos. Eles adoram você Viemos rindo o tempo todo quando viemos fazer a arrumação da casa no Albamar antes da festa.
P.S.3 Adorei conhecer o Pepe da Ofélia. Já tinha ouvido falar dele como trompetista e tamvém do Betinho do Vibravone.
28/06/81
FESTA DE SÃO JOÃO, JD.ALBAMAR
A PRIMEIRA QUADRILHA
[1] Neste bilheta faço referência ao janyat realizado pelo Irmã Angelina na Voate Galeão no Parque Nalneário e que está comentado no Vivendo na luz. Nota do Autor.
[2] A propósito da Fotografia dedico a seguinte crônica que se envontram no livro Crônicas I:
ESTES ARTISTAS DE CÂMARAS INCRÍVEIS E SUAS FOTOGRAFIAS MARAVILHOSAS